domingo, 25 de abril de 2010

Esquina de rua

"Tinhas o corpo cansado
E a cidade era tão fria.
Ninguém dormia a teu lado,
Ninguém sabia que amado
O teu corpo se acendia.


Andavas devagarinho
Pelas ruas de Lisboa
Em busca de algum carinho
Que fosse pão e vinho,
E te desse noite boa.


Eras triste e sorrias,
E mais nova se choravas
As palavras que dizias.
Tinhas dores e alegrias,
Mas só ternura deixavas.


Por ti não houve ninguém
Para quem te desses nua.
Podias ter sido mãe,
Podias ter sido alguém,
Mas foste esquina de rua."

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ele não sabia chorar

Ele perdeu-o, deixou-o voar. O balão fugiu-lhe por entre os dedos, numa pequena distracção. Parou, quieto e calado, e pensou em chorar, mas não sabia fazê-lo. Então encolheu os ombros, continuou a caminhar.
Andou, andou, perdeu-se na cidade, conheceu cores novas, outros cheiros.
Até que se cansou de risos fáceis mas que não lhe faziam companhia.
Essa noite deitou-se sóbrio, e sentiu-se sozinho. Lembrou-se "aquele balão ainda tinha o sopro dela.."
Então pegou no telefone, mas já era tarde. A noite tinha avançado com as horas. Quis voltar a falar mas desistiu, o orgulho era mais forte. E ele não sabia chorar...

O dia amanheceu.

Ela bateu-lhe à porta, arrancou-o da cama, berrou-lhe os ouvidos! Abanou-o pelos ombros, mostrou-lhe que alguma coisa estava a morrer. A apatia, a preguiça, o egoismo estava a afogar o que ele mais queria,  quem o tinha ensinado a amar.

Deixou-o no chão, nu, sem sossego. Com a água a correr.

Voltei para casa. Estou sentada a escrever, à tua espera.

sábado, 17 de abril de 2010

Apenas coisas

Há coisas que, apesar da nossa dedicação, não mudam. Coisas que transformam o nosso esforço em insistência, e mais tarde a insistência numa luta pessoal.
Há coisas que por serem repetidas, já não magoam, apenas desiludem.
Estas certas coisas na verdade são pessoas que tratam o que nos é importante... como uma coisa qualquer!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O teu passarinho meu

No fundo das tuas costas mora um passarinho verde, que me canta baixinho, e me conta segredos quando adormeces. Nunca me esqueci dele, nem das tuas pestanas russas pelo sol, e do teu amor por mim que o fazia cantar.


E perguntas-me tu por ele, que não o ouves nem ninguém o vê...


Pois é só comigo que ele fala, só a mim canta baixinho. O verde daquelas penas é meu!
Assim como as tuas pestanas russas e os teus segredos enquanto dormes!