terça-feira, 20 de julho de 2010

  ...

De todas as tardes quentes, esta foi a mais longa, a que mais a fez pensar. O vento abafado que corria da terra sussurrava-lhe aos ouvidos promessas de flores oferecidas, roubadas de um quintal.
      Caminhava até casa embalada pelas palavras que se reproduziam na sua cabeça, e a faziam rir sozinha na rua...




                                                   -Janta comigo!

Quero apresentar-te ás estrelas,
que de noite me ouvem a agonia
e mostrar-te as ondas,
a quem me confesso de dia.
Quero fazer do teu abraço
a minha companhia,
da tua gargalhada
 a minha própria alegria.
Há um verde de lima
nos olhos e na esperança.
Há fogo e há trigo
no cheiro da tua trança.
És mais do que corpo!
És a fénix e a cinza,
és o que me falta num todo, 
és o perfume que fica!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A pequenez



Tenho pena dos que, tendo tanto, não conhecem

nada. Dos que, temendo o frio, não sentem o

vento!

Dos que já sabem tudo,

dos que não erram, e não se sentam no chão!

Lamento pelos que nunca perderam, pelos nunca

sofreram, pelos que nunca sujaram as mãos!

E Ai de quem nunca chorou! De quem nunca se

 arrependeu, de quem nunca precisou de

 um abraço.

Cartas à minha flor III

"Um dia vamos acordar com vontade de pular da cama. Vamos vestir linho,  passear os cães e trazer pão quente para casa. Vamos passar a tarde a escrever, e a comer melancia fresca. Vamos parar para apreciar o dia escurecer e a lua subir, cor de laranja.
Tu e eu, vamos ouvir quem amamos chegar a casa, tranquilamente.
Vamos jantar com muita gente à mesa, com confusão na cozinha, e cheiro a bolo de chocolate a torrar no forno.
Então, sentar-nos-emos no alpendre de casa a beber vinho, com uma caneta a prender o cabelo."

Um dia, minha flor, depois de tudo o que agora temos por fazer, vamos lembrar-nos da conversa de hoje e confirmar que realizamos mais do que se sonhou um dia.

sábado, 3 de julho de 2010

Afinal o tempo fica

Não páro as hora que fazem o tempo passar, nem as pessoas que me pedem para esperar, pensando que vivem o meu tempo e que eu partilho do meu.
Enquanto voam Primaveras e tardes amenas, eu fico aqui, mudo e renovo-me, mantendo-me sempre aqui.
As pessoas e o tempo passam, e nós passamos por ele, vivendo, enquanto na verdade ele se ri de nós. "Lutas miuda, para quê, por quem? Por que carícias forçadas pelo desejo da juventude, fugaz e vazio?"

Não páro nada à minha volta, só a minha respiração que, emocionada, se descontrola de cada vez que os nossos olhares se cruzam, a cada hora, em cada Primavera que passa.

"Afinal o tempo fica, a gente é que vai passando".